Para aqueles que nunca ouviram falar, permitam apresentar-lhes o meu pé de sabugueiro. Falo de uma espécie de arbusto. Ele me foi apresentado por meu pai, que plantou a muda em nosso quintal quando eu e meus dois irmãos contraímos o danado do sarampo. Naquela época – início da década de 1960 – a temida doença era bastante comum, sobretudo entre crianças.
De procedência européia, o maravilhoso sabugueiro apresenta propriedades medicinais. Ainda que se trate de um arbusto, o sabugueiro (Sambus nigra) apresenta porte considerável – bem cuidado, quando adulto ele pode atingir até cinco metros de altura.
Mas foi uma singela arvorezinha que se tornou companheira na minha infância. Enquanto eu crescia, criamos um forte elo. Fincada num canto do quintal, a arvorezinha que viera para curar um mal – e também por isso eu a tinha em consideração – também se desenvolvia e passei a tratá-la cada dia com mais esmero.
À época, eu devia ter por volta cinco ou seis anos – estávamos em 1963 ou em 1964. Enquanto aprendia as primeiras letras, o menino tinha no sabugueiro um incansável companheiro sempre no mesmo lugar para com ele brincar. Na rotina de brincadeiras, aquele amigo podia ser tudo o que sua imaginação permitia – em seus galhos eu podia cavalgar, navegar, e até voar. Nas tardes ensolaradas, as sombras tinham as suas funções.
Um pouco mais crescido – já no antigo curso ginasial – me chegou às mãos uma obra literária – um clássico -, que me surpreendeu: o livro O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos. A história do menino Zezé bem poderia ser a minha.
Bem sei porque estou narrando isso só agora. Passaram muitos anos desde que aquela mudinha foi plantada, cresceu e tornou-se minha companhia durante parte da infância. Há alguns meses tive que voltar à casa onde morávamos para dela me despedir, uma vez que ela não pertence mais à nossa família.
Naquele quintal, só a saudade ficou. Da antiga moradia, só escombros sobraram. E, no meu íntimo, foi como se um amigo morresse, pois também o meu pé de sabugueiro partiu.
Samuel De Leonardo (Tute) é publicitário. Atuou em diversas agências de Publicidade de São Paulo. Publicou os livros: “Hacasos” em 2016 e “Versos & Prosas” em 2022. Tem alguns de seus textos inseridos nos sites Recanto das Letras, Casa dos Poetas e das Poesias, e textos radiofonizados na voz do âncora Milton Jung, no programete Conte a sua história de São Paulo da Rádio CBN SP. samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook@samueldeleonardo.
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