Chegamos na cidade de São Paulo no início do ano de 1957, vindos de Inúbia Paulista, no interior do Estado; meus pais, eu ainda bebê, meu irmão mais velho e meus avós parternos. Por muitos anos moramos em um local que não tinha ruas asfaltadas, saneamento básico e sequer energia elétrica, isto no bairro São Domingos, no Butantã. Em meados de 1961, finalmente chega a energia elétrica instalada pela antiga Light.
Com a instalaçâo da energia elétrica, meu pai adquire um extraordinário rádio, da marca Semp, em móvel de madeira envernizada, com 4 faixas de ondas, via carnê na Mesbla, da Rua Butantã. Assim começamos a ouvir rádio pela manhã, ao longo do dia e até a hora de dormir.
Meu avô não perdia nenhuma edição do jornal “Primeira Hora” e o “O Trabuco” com o Vicente Leporace, ambos na Rádio Bandeirantes; já o meu pai gostava de ouvir na Rádio Piratininga o jornalístico “Rotativa no Ar” e o “Grande Jornal Falado Tupi”, na rádio Tupi, com os comentários de Corifeu de Azevedo Marques, famoso naqueles tempos.
Desde então, o rádio passou a fazer parte do meu universo. Aquele aparelho sonoro, tal qual uma caixinha mágica, passou a exercer um encantamento sem igual, extrapolando a imaginação do menino de apenas seis anos de idade, até aos dias atuais. Ao som de locutores extraoridários, grandes jornadas esportivas eu pude acompanhar, a alegria contagiante na conquista do bicampeonato na Copa do Mundo de 1962 no Chile, as lágrimas pelo fracasso na derrota do Brasil contra Portugal, em 1966, na Copa da Inglaterra.
Ao som do rádio, o garoto foi crescendo, virara hábito acompanhar as famosas jornadas esportivas, alternando no dial, entre uma emissora e outra para comparar a precisão do narradores na descrição das jogadas, sempre vibrando ou sofrendo com o tricolor. Acostumara, de madrugada, sintonizar emissoras de outras localidades, navegando nas quatro ondas, ou faixas, que o aparelho oferecia, como fazemos hoje navegando na internet. Mamãe também tinha seus momentos, novelas e mais novelas na Radio São Paulo.
Chegara a adolescência, e com ela o prazer de ouvir músicas que atendiam o público jovem e, bem antes da disseminação das emisoras em FM (Até aqui falamos sobre rádio AM), tenho boas lembranças da Rádio Excelsior “A máquina do som”, com Antonio Celso e da Rádio Difusora com o “Disco de ouro” na voz de Darcio Arruda.
Aos quinze anos consegui emprego em uma empresa do setor agropecuário, com sede em Santo André, a IAP Fertilizantes, cujos escritórios ficavam no bairro de Pinheiros. No período em que lá permaneci, conheci um grande apresentador de rádio daqueles tempos, Rubens de Moraes Sarmento, cujo programa na Rádio Tupi tinha o patrocínio da empresa. Eu cuidava do envio dos spots em disco vinil, no formato de um compacto, em 78 rotações, para as veiculações no seu programa, fazia a checagem das inserções comerciais e, pessoalmente, do pagamento do seu cachê. Isto, e mais a minha infância toda ouvindo rádio, exerceceram forte influência na minha escolha profissional.
Hoje, publicitário aposentado, continuo sem dispensar a companhia do Rádio, quer seja no carro, na cozinha, no quarto, no celular, no computador, na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapé.
Salve, salve a sua majestade, o Rádio!
Samuel De Leonardo (Tute) é publicitário. Atuou em diversas agências de Publicidade de São Paulo. Publicou os livros: “Hacasos” em 2016 e “Versos & Prosas” em 2022. Tem alguns de seus textos inseridos nos sites Recanto das Letras, Casa dos Poetas e das Poesias, e textos radiofonizados na voz do âncora Milton Jung, no programete Conte a sua história de São Paulo da Rádio CBN SP. samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook@samueldeleonardo.
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