O garoto passava em frente à casa quase todos os finais de tarde. Distraído como qualquer adolescente, não notara a princípio, que duas jovens, estrategicamente sentadas no muro da residência, o observavam. Aquele era seu trajeto obrigatório nas caminhadas diárias que fazia em direção à escola.
No início, sua timidez o força a trocar de calçada. Mas, decorridas algumas semanas, cria coragem e então se atreve a cumprimentá-las. A reciprocidade de ambas o deixa confortável e feliz. Uma delas desperta sua atenção e mexe o com o imaginário. A sensação fica ainda melhor quando comenta sobre as meninas com um colega da escola, que fica entusiasmado com o relato e se interessa em conhecê-las.
O primeiro passo foi se apresentarem e perguntarem o nome delas. Pela primeira vez o coração do garoto batia de maneira diferente. Jurandir, o colega, cortejou e ficou fascinado com a amiga, a também linda menina. Enquanto o companheiro se dedicava à colega, um leve beijo trocado com a bela garota selava o namoro. Ela se tornara, então, a primeira namorada do menino que, outrora, havia beijado na boca apenas uma única vez, sem maiores emoções. Desta, porém, o beijo fora diferente, tinha um doce sabor, o sabor da felicidade, o gosto de quero mais.
Tudo era novidade, tudo era felicidade. O que importava realmente era estar junto dela e sua presença passara a representar a força que o estimulava a conservar ainda mais o seu respeito a tão doce criatura. Durante meses teve o coração aos pulos devido à intensa ansiedade ante a expectativa dos encontros.
A partir daquele momento emocionante, o agora enamorado tem a sua rotina de vida alterada As novas descobertas proporcionadas pelo fogo dos hormônios à flor da pele fizeram com que o rapaz se sentisse repleto de felicidade, modificando seu curso de vida, um divisor de águas.
A namoradinha tão exuberante — detentora de um rosto com traços suaves, adorável de olhar, de acariciar, de um ser bondoso em sua plenitude — enchia de orgulho o menino tímido que desejou que aqueles momentos se eternizassem. Havia um ar de cumplicidade. Havia uma nova motivação, um entusiasmo pela descoberta da paixão, com atitudes respeitosas e juvenis.
A situação perdurou até que, em um fatídico dia, a adorável rotina mudou inesperadamente. Ainda hoje ele não consegue entender com clareza o motivo, mas o rompimento foi inevitável.
Seu coração não mais disparava pelo costumeiro e delicioso contato com a garota, mas sim pela aflição de estar assistindo ao fim de uma exuberante experiência pessoal que transformara, por completo, sua existência.
Pela primeira vez conhecera uma tenra paixão e também o primeiro e derradeiro adeus. E isso foi o suficiente para que entendesse que sentimentos são imprevisíveis e que o amargor também acontece. Ali findava uma suave cumplicidade de sentimentos.
Em seus pensamentos projetava que nunca mais a veria novamente.
O tempo se encarregou de consertar a frustração. O menino cresceu, tornou-se adulto e outros relacionamentos surgiram e se foram também. Passados tantos anos daqueles momentos felizes e inesquecíveis, é o ainda menino que pergunta: onde estaria aquela meiga e encantadora criatura — a sua primeira namorada?
Samuel De Leonardo (Tute)
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