Em 2021, o Brasil foi o quinto país com maior número de diagnósticos de diabetes no mundo. Essa síndrome metabólica é associada ao sobrepeso, ao sedentarismo e à má alimentação, e de acordo com dados do Ministério da Saúde houve um aumento de 54% na sua ocorrência entre a população feminina nos últimos 15 anos. Um estudo realizado na Universidade Estadual do Ceará (Uece) a partir de dados do DataSUS também indicou que a mortalidade é mais alta entre mulheres do que entre homens, sendo 32 contra 27 mortes a cada 100 mil habitantes.
Frente a esse cenário, pesquisadores quiseram entender o impacto da prática de atividades físicas sobre marcadores metabólicos em um grupo específico de mulheres: aquelas com diabetes mellitus tipo 2 que se encontram na pós-menopausa. Os dois fatores foram selecionados pois apresentam sintomas concomitantes para maior adoecimento feminino, e os resultados indicaram os benefícios de aliar o treino aeróbico com o de força.
Rodrigo Daminello, primeiro autor da metanálise e professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca que a pesquisa pode fomentar políticas públicas no campo da saúde e bem-estar da mulher. “Obtivemos dados que mostram o benefício, mas ainda precisamos de estudos prospectivos comprovando essa eficácia a longo prazo”.
O trabalho teve a participação de múltiplas instituições, e tem entre os coautores José Maria Soares, chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Segundo ele, o foco atual do departamento é minimizar os sintomas da menopausa. “Temos uma população em processo de envelhecimento, e cada vez mais mulheres estão chegando no climatério”, explica. “Simultaneamente, ocorre o aumento de peso da população em geral — que piora durante a menopausa, pois vários fatores metabólicos mudam —, e problemas de estilo de vida acometem cada vez mais pessoas”.
Como as condições se relacionam? A pós-menopausa é um período de estabilização hormonal que ocorre após mudanças intensas, podendo trazer efeitos adversos para a saúde feminina. A diminuição do estrogênio reduz a densidade mineral, tornando as mulheres mais suscetíveis à osteoporose. “[A osteoporose] é uma doença de desenvolvimento silencioso, que não apresenta sintomas claros inicialmente”, afirma Soares. Essa fragilidade óssea pode aumentar a frequência de fraturas e quedas, ocasionando problemas de mobilidade, resiliência mental e falta de autonomia na terceira idade.
Ademais, o risco de problemas cardiovasculares aumenta — desde problemas mais comuns, como palpitações, até mais graves, como ataques cardíacos. As mulheres também se tornam mais propensas a sofrer com condições psíquicas, como depressão e ansiedade: pesquisas indicam que a perimenopausa (período que antecede a menopausa, e que pode trazer sintomas vários anos antes dela) é comumente vista como uma “janela de vulnerabilidade” para o desenvolvimento desses transtornos, mas a gravidade retrospectiva dos sintomas e desafios enfrentados têm impacto duradouro na saúde das mulheres.
A conscientização, sobretudo, da população, sobre a importância de intervenções não farmacológicas é um processo crucial. “É muito melhor fazer uma prevenção de doença com atividade física do que fazer o tratamento das complicações”, conclui Soares.
Fonte: saopaulo.sp.gov.br