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hacasos

SEMÁFORO

O dia nem bem amanhece,
as luzes artificiais se rendem.
e lá está o petiz defendendo o seu
enquanto o cristão reza a sua prece,
o seu irmão padece

Bala de goma, senhora
ela sequer abaixa o vidro
engata a primeira e vai embora
O menino só quer vender,
ele não quer a tua esmola

No semáforo, a luz verde
não é esperança,
é a luta de uma criança,
o brilho amarelo pede atenção
no vermelho ele oferece

Automóveis param,
é feita a abordagem,
no retrovisor ele coloca o recado,
uma oferta, balas de hortelã
sem culpa paga o pecado
de um ser sem o amanhã

Mais um carro,
outros carros
vende pouco, quase nada
algumas moedas ele recebe,
por vezes, pontas de cigarros

No veículo, confortável,
o motorista protegido
respira o ar condicionado,
visualiza, mas não enxerga
o garoto lá fora, sufocado
As três cores são constantes
farol que não descansa
faturamento tão distante
Tem mais respeito a faixa de pedestre,
muito mais que o invisível moleque

Sente fome, passa frio,
enfrenta chuva, toma sol,
brinca de contar,
conta quantas vezes pisca o farol

As horas passam ligeiro
o dia todo sem comida
o que fazer sem o dinheiro,
desafios de uma vida,
paga pecados que não cometeu

As estatísticas o classificam
abaixo da linha da pobreza
Enquanto as luzes mudam.
a sociedade o ignora,
seu destino é a incerteza

O semáforo dita o ritmo
pare, atenção, agora siga,
adiante circulam os automóveis
o pivete defende a vida,
governantes não se comovem

A luz natural se recolhe, aos poucos se vai, logo cede
em seu lugar brilham as LEDs
Na esquina do farol o guri
não conhece o seu passado,
o presente é ausente,
seu futuro, claro, é escuro.

Samuel De Leonardo (Tute)
samuel.leo@hotmail.com.br e Facebook @samueldeleonardo

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